Não existe nada mais emocionante do que colocar um filho no colo pela primeira vez, tenha ele vindo da barriga ou do coração. Vão crescendo, pais e mães seguem ensinando e aprendendo com eles. Todos os dias uma nova descoberta e, assim, todos vão amadurecendo juntos. São muitos os prazeres durante este trajeto, uma curtição alimentar o filhote, limpar, vestir, passear, brincar e depois dormir abraçadinho. E ele vai crescendo e aprendendo cada vez mais coisas, engatinha, caminha, sua curiosidade faz com que ele pense que pode mexer em tudo. Tudo mesmo. Surgem as primeiras palavras, muitas vezes indecifráveis, e cada vez mais ele surpreende com tanta agilidade e sabedoria. Um espanto este menino. A quem será que puxou?
Mas o problema é que ele cresce. E rápido. Logo ele já está na escolinha, cercado de amigos e daí pra frente só vai. Quanto mais ele conhece o mundo, mais ele quer conhecer e tudo isso com uma velocidade sem freio. A tecnologia trouxe muitas coisas boas, mas com ela também veio a distância cada vez maior das brincadeiras do jardim, da rua, das peladas, da casinha na árvore. A geração do iphone, ipad, imac é aquela que não sabe o que é brincar de polícia e ladrão, de esconde-esconde e de caçar vagalumes. É a geração do já vou. Já vou estudar, já vou dormir, já vou tomar banho e escovar os dentes. E enquanto ele não vai fazer o que deve ser feito, os dedinhos continuam ali teclando com uma ânsia sem fim. Impressionante.
A adolescência é outra fase danada. Ele cresce, termina a escola, entra na universidade e se forma. E agora? O que fazer numa época em que empregos estão escassos. E mesmo que desse em árvores ele não saberia como colher, por que não brincou no jardim anos atrás. Surgem os conflitos internos e os atritos entre gerações. E os pais se requebram pra conseguir acompanhar e de um jeito ou outro tentar ajudar. Pra completar esta fase, ainda vem a alegria do primeiro amor e a tristeza do fim dele. Sim, eu sei que dói. Mas o pior ainda está por vir, o primeiro carro. Aí sim é o fim da paz, para os pais, lógico, porque para o filho nunca é problema, tudo ele sabe resolver, ele sabe se cuidar, aliás, os pais são sempre muito exagerados. Ainda bem que existe celular para tranquilidade da família, que serve para ele mandar notícias e atendê-lo quando tocar. Só que ele não manda notícias e nem atende quando toca. Ora, ou estava no silencioso, ou no quarto, ou sem bateria. Dá pra imaginar? Não. Aliás, é muito difícil imaginar estas hipóteses, o mais provável é surtar imaginando um sequestro relâmpago.
Que saudade daqueles tempos. Que saudade de dar banho e trocar fraldas. Que saudade quando se sabia onde encontrá-lo, quando se conhecia os pais dos amigos, quando ele não bebia, não dirigia, não entrava em crises existenciais. Era tão mais tranquilo. E ainda tem pais que se estressam quando o filho fica gripado, quando não quer mais aquele sapato por pura birra, quando não quer comer brócolis, quando vai mal na prova. Antes estas preocupações, do que não dormir enquanto ele não chega em casa.